O Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – realiza o projeto “Pão e Poesia”, que pretende envolver, progressivamente, a população da cidade no clima do Festival, que vai acontecer de 26 a 31 de outubro de 2021. Com a parceria das padarias de Itabira, os pães serão entregues às pessoas em sacos personalizados com poemas de Carlos Drummond de Andrade, escolhidos pelo neto do Poeta, Pedro Drummond. A partir de setembro, serão distribuídas, no total, 30 mil embalagens de um, três e cinco quilos. Cada pesagem e tamanho com os poemas “Segredo”, “Estampas De Vila Rica” e “Rifoneiro Divino”, respectivamente.
De acordo com o jornalista Afonso Borges, idealizador e curador do Flitabira, a iniciativa, além de levar a literatura ao dia a dia dos itabiranos tem também a intenção de tornar o festival mais próximo da população, democratizando-o, ainda mais. “Queremos distribuir os poemas justamente para serem lidos nos momentos em que a família está reunida, à mesa. Às vezes, é ali, num período de descontração que temos um tempinho para ler um verso”, afirma Afonso Borges.
“Para o Instituto Cultural Vale, é uma alegria participar dessa iniciativa que aproxima a leitura de todos, fazendo um convite para sentarmos à mesa, compartilharmos poesias e fazermos novas descobertas”, destaca Christiana Saldanha, gerente do Instituto Cultural Vale.
O Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira – vai acontecer entre os dias 26 e 31 de outubro de 2021. Esta é a primeira edição do evento que, desde o início do ano, vem promovendo ações de incentivo à leitura e à educação em Itabira. A mostra “Ocupação Dom Quixote, Portinari e Drummond”, inaugurada em julho, na praça do Areão, ficará em exibição até o dia 31 de outubro de 2021. Além disso, também estão em curso o Prêmio de Redação, voltado a alunos de escolas públicas e privadas de Itabira, e o programa Aulas Livres, do qual podem participar os professores da cidade.
O Flitabira é viabilizado com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo. O projeto conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Itabira, da Secretaria Municipal de Educação de Itabira e da Fundação Carlos Drummond de Andrade.
Confira, abaixo, os poemas de Carlos Drummond de Andrade que serão impressos nos sacos de pães de um, três e cinco quilos, respectivamente:
Segredo
A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.
Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.
Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.
Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
(do livro Brejo das almas)
Estampas de Vila Rica
IV: Hotel Toffolo
E vieram dizer-nos que não havia jantar.
Como se não houvesse outras fomes
e outros alimentos.
Como se a cidade não servisse o seu pão
de nuvens.
Não, hoteleiro, nosso repasto é interior,
e só pretendemos a mesa.
Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.
Tudo se come, tudo se comunica,
tudo, no coração, é ceia.
(do livro Claro Enigma)
Rifoneiro Divino
Responde, por favor: Deus é quem sabe?
Sabe Deus o que faz?
Deus dá o pão, não amassa a farinha?
Deus o dá, Deus o leva?
Pertence-lhe o futuro?
Deus te dá saúde? Deus ajuda
a quem cedo madruga?
Será que Deus não dorme?
E é Deus por todos, cada um por si?
Deus consente, mas nem sempre? Deus
perdoa, Deus castiga?
Deus me livra ou salva?
Deus vê o que o Diabo esconde?
De hora em hora Deus melhora?
Mas é se Deus quiser?
E Deus quer?
Deus está em nós? E nós,
responde, estamos nele?
(do livro A paixão medida)