A segunda gravidez é mais cansativa que a primeira?

O obstetra Alexandre Pupo explica as diferenças entre as gestações Uma mãe de primeira viagem se depara com várias dúvidas e desafios por estar enfrentando algo inédito em...

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O obstetra Alexandre Pupo explica as diferenças entre as gestações

Uma mãe de primeira viagem se depara com várias dúvidas e desafios por estar enfrentando algo inédito em sua vida. Enjoo, vômitos, dor nas costas, a ansiedade em relação ao parto… não é fácil lidar com o turbilhão de emoções na gestação do primeiro filho.

Quando o assunto é a segunda gravidez, algumas inseguranças também podem surgir. O parto vai ser menos doloroso? E a amamentação? A barriga vai crescer mais? Será que o primogênito aceitará o irmãozinho?

CLAUDIA bateu um papo com Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein. Ele explicou quais são as possíveis dificuldades da segunda gravidez e as diferenças existentes em relação à primeira gestação.

A segunda gravidez é mais desgastante para a mulher do que a primeira?

Há três aspectos interessantes em relação à segunda gravidez, considerando que a primeira tenha terminado com uma criança em casa. O primeiro deles é que a gestação tende a ser um pouco menos desgastante no quesito emocional. Isso porque a mãe já passou pela primeira gestação e pelos seus desafios, como o trabalho de parto, o cansaço, o enjoo, a fase final da gravidez, dor nas costas, perna inchada, dificuldade de andar, entre outros. A mãe já enfrentou o nascimento e a amamentação, então já não envolve a questão do desconhecido.

Porém a segunda gravidez impõe uma série de outros desafios: a mãe já tem um bebê saudável em casa. Existe um medo muito grande de uma gravidez que possa não evoluir bem, de uma internação mais cansativa, o medo de um segundo filho com algum problema de saúde. Existe também essa questão junto à dúvida de como esse primeiro filho vai aceitar o irmão, tem a questão do ciúmes que ele pode ter, de como a mãe vai dividir o amor e atenção com o segundo filho.

Por fim, há a questão do dia a dia, em que ela vai ter de carregar o desgaste da segunda gravidez com uma criança que tem as suas demandas, como ser levada para a escola, ser levada para festa de aniversário, por exemplo. Nesse sentido, pode ser mais desgastante, sim.

O sono é mais afetado pela segunda gravidez?

Qualquer gravidez afeta o sono da mãe. No cenário de uma segunda gravidez, já há a sonolência normal de uma gestação e, além disso, há as demandas da criança que já está na casa. Então, dependendo da faixa etária desse primeiro filho, há demandas noturnas, como trocar a fralda ou limpar uma criança que ainda faz xixi na cama. Sendo assim, sem dúvidas, já ter uma criança em casa afeta o sono por essa soma da sonolência normal da gravidez com os cuidados com o primeiro filho.

As demandas e os cuidados exigidos pelo primeiro filho podem afetar a segunda gestação (Caiaimage/Agnieszka Olek/Getty Images)

Fatores como a elasticidade dos músculos e estado dos ossos, que com a idade são afetados, influenciam para uma segunda gravidez mais desgastante?

Depende do tempo entre as duas gestações. Uma gravidez mais próxima em relação a outra pode provocar alguns problemas, porque a própria gestação altera a elasticidade dos ligamentos do corpo, então, principalmente na questão óssea, a mulher tende a perder cálcio. Existe também a questão da idade: quanto com mais idade a mulher engravidar, maiores são os riscos relacionados à perda de massa óssea e à perda de massa magra.

Então a nutrição da mãe deve ser diferenciada?

Na verdade, depende muito da fase da vida da mulher, da sua idade e da diferença de anos entre as gravidezes. Não é simplesmente o fato de ter tido a segunda gravidez. O fato de ter avançado na idade e de ter duas gravidezes muito próximas altera a necessidade nutricional da mãe.

Quais os cuidados necessários para uma segunda gestação mais saudável e prazerosa? Existem diferenças em relação à primeira gestação?

Sim, existem diferenças. Até mais do que na primeira gravidez, a mãe deve buscar o médico para estar preparada para a gestação. Por ela estar cuidando de uma gravidez, de outro filho e ter dupla jornada, em alguns casos, essas mães tendem a olhar menos para a própria saúde e a da criança. Então, um aconselhamento junto ao médico é necessário para que ela recupere o que foi perdido na primeira gestação.

Em caso de problemas emocionais, ela deve buscar resolver essas questões no âmbito da psicologia e também tentar não juntar a gravidez do segundo filho a alguma tensão ou atenção que deve ser dada ao primeiro filho. Ou seja, não casar o final da gravidez com alguma questão em relação à primeira criança. Por exemplo, não se deve juntar o período da gravidez com uma fase de adaptação na escola. A mulher deve tentar organizar a vida para ter um momento de calmaria durante a segunda gravidez.

O acompanhamento médico é ainda mais essencial durante a segunda gravidez (Caiaimage/Agnieszka Wozniak/Getty Images)

Sobre os enjoos, eles podem ser piores do que na primeira gestação?

O enjoo tem vários fatores associados. Existe uma questão própria da gestação, devido aos hormônios que regem os primeiros três meses da gravidez. Entretanto, se a mãe tiver alguma questão emocional, isso pode fazer com que ela tenha mais náusea e mais vômito do que o normal. Isso pode acontecer tanto na primeira gestação, pelo medo e pela insegurança, quanto na segunda gravidez, por conta do filho que já está na casa. Então, o enjoo está muito ligado ao estresse, que pode piorar com a preocupação do primeiro filho na escola, com o novo bebê e todos os demais cuidados. 

Há alguma diferença na amamentação?

Do lado emocional, o que mais se percebe é que o primeiro filho começa a exigir atenção. Durante os primeiros meses, a atenção do novo bebê é muito grande e tem um outro filho que demanda menos atenção por ser mais velho. Mas ele sente como se estivesse perdendo seu espaço na casa, existe uma insegurança por ele achar que perdeu o apoio da mãe. Isso pode gerar dificuldades para ela e reduzir a produção de leite por conta emocional. É muito importante que as mães, nesse caso, deem atenção ao segundo filho também. Crianças mais velhas podem regredir por conta disso, ou seja, querer mamar no peito de novo, fazer xixi na cama e a mãe, ao invés de brigar, deve acolher e ajudar o filho a entender a nova fase.

Já no lado biológico, a tendência é a amamentação ser mais fácil, porque a mãe já teve experiência e porque a aureola já está acostumada ao ato de sucção. 

E há diferenças na transformação física entre a primeira e a segunda gestação?

Sim, a barriga cresce mais rápido por causa do tecido da barriga, que fica mais ‘laceado’, então ele distende com mais facilidade.

E em relação à recuperação do útero, é mais demorada?

A recuperação é semelhante. O corpo da mulher, durante sua vida, sofre diversas mudanças. A primeira vem com a menstruação. A segunda, com a primeira gestação, que completa todas as transformações que o corpo vai ter. Então, por ela já ter passado por uma primeira gravidez, a segunda a exige menos transformações.

O parto pode ser mais fácil? A dilatação é mais rápida?

Sim, se já dilatou uma vez, a segunda dilatação é mais rápida. O mecanismo para o parto da primeira gravidez para a segunda muda.