Gostar de ménage, ser indeciso, ser vetor de doenças… esses são alguns dos julgamentos que os bissexuais ainda escutam em pleno século 21.
Infelizmente, as conclusões precipitadas sobre a orientação sexual das pessoas continuam acontecendo. E quando o assunto é bissexualidade, os comentários são mais do que simplesmente pitacos. Em sua maioria, eles são preconceituosos e refletem a biofobia – a discriminação contra o grupo.
Para entender como ocorre a invisibilidade dos bissexuais, o MdeMulherprocurou o coletivo “Bi-sides” para ouvir diretamente de quem vivencia esse preconceito diário.
O grupo foi fundado em 2010 e procura “articular e criar redes de bissexuais local, nacional e internacionalmente”, como diz a descrição da comunidade no Facebook. Por isso, conseguirmos colher depoimentos e separar oito mentiras que cooperam para que esse grupo seja ainda mais desrespeitado.
Confira:
1. “Bissexual é infiel”
Infelizmente, muitas pessoas associam bissexualidade com infidelidade. Isso acontece com a justificativa de que bissexuais não se sentem completos ao estarem com quem quer que seja a pessoa, pois se atraem pelos dois gêneros. Essa frase ofensiva também acontece porque pessoas que se relacionam com homens e mulheres são vistas como promíscuas.
Porém, esse posicionamento é apenas um reflexo do preconceito ao grupo e um comportamento social comum de binariedade, isto é, que só se pode ser uma coisa ou outra, mas não as duas ao mesmo tempo, como explica o psicólogo Hamilton Kida, fundador do Projeto Rainbow, ao UOL.
2. “Você está enganando o seu parceiro”
Ao ser hetero, você anuncia qual a sua orientação sexual, como se fosse uma grande informação reveladora? Provavelmente não. Por que o contrário deveria acontecer com pessoas bissexuais? Esse questionamento não é para, de forma alguma, incentivar alguém a esconder sua orientação sexual, mas lembrar que não é obrigatório anuncia-la.
A única pessoa com quem você precisa estar esclarecida sobre sua orientação sexual é você mesma – e sempre com o cuidado de respeitar o seu tempo de auto-reconhecimento.
3. “Bissexual não sofre preconceito, porque pode escolher”
Dizer algo desse tipo para uma pessoa bissexual é não ter consciência de que essa frase, por si só, reforça o preconceito contra quem gosta de homens e mulheres simultaneamente. Isso porque ela fortalece a ideia de que a bissexualidade é um grande parque de diversão com inúmeras disponibilidades diante dos olhos – esquecendo completamente da fetichização, que principalmente as mulheres bissexuais sofrem.
Além de idealizar uma ideia de que essa orientação sexual facilita as relações afetivas, esquece-se que muitas vezes o processo é inverso. Exemplo: bissexuais são alvos constantes de desconfiança – como a da mulher que pensa na possibilidade de ser trocada por um homem e vice-versa. Também existe o problema da fetichização, pois há quem acredite que um parceiro bi tem que ser adepto de qualquer prática sexual, principalmente, a que envolve sexo a três.
4. “Já fez ménage, né?”
A sociedade vê as pessoas bi sob uma ótica muito sexualizada, por isso tal frase é muita ouvida. Além do questionamento como uma curiosidade extremamente invasiva, há também os casos de pessoas que procuram por pessoas que gostam de ambos os sexos simplesmente para convidá-las para um ménage.
Esse convite aleatório (e hostil!) também está relacionado ao preconceito de que bissexuais são imorais e, consequentemente, concordariam com qualquer experiência sexual. Quem pensa assim esquece-se que se encaixar dentro dessa orientação sexual não faz com que a pessoa deixe de ter preferências, que os bissexuais podem escolher o que gostam ou não de fazer na hora de transar. Portanto, ser bissexual não é sinônimo de ser adepto do sexo a três.
5. “Isso é só uma fase!”
De fato, muitas pessoas passam algum tempo se reconhecendo como bissexuais antes de descobrirem que são lésbicas ou gays, mas isso não é uma regra. Na verdade, limitar essa orientação sexual como transitoriedade é uma face da bifobia. Mais uma vez, não é necessário gostar só de A OU B, existe o “E”.
6. “Tudo bem gostar de um ou outro, mas dos dois não dá”
Na verdade, dá sim. Dá e muito! Estabelecer que alguém só pode se atrair por um dos gêneros é esquecer que o ser humano não se limita quando o assunto é gostar. Portanto, por que isso deveria acontecer com a sexualidade de alguém?
Porém, é importante ressaltar que não está tudo bem em dizer que a bissexualidade é apenas um reflexo da complexidade humana ou que bissexuais são verdadeiras representações da geração que não precisa de rótulos. Essa orientação sexual possui um conceito, sempre existiu e não é sobre a confusão humana, mas sobre como a binariedade das coisas não é uma regra.
7. “Bissexualidade não existe, você é lésbica!”
Negar a existência de uma orientação sexual que conversa com ambos os gêneros é a bifobia em um das formas mais puras. Principalmente porque é dizer para a pessoa que se reconhece de tal forma é estar mentindo para si mesma e dar a entender que a pessoa não se conhece verdadeiramente.
O mesmo acontece quando alguém tenta determinar a orientação sexual de um bi a partir do gênero da pessoa com quem ela ou ele está se relacionando no momento. Ou seja: se uma garota bissexual está namorando uma mulher, ela é vista pelos bifóbicos como lésbica, se está namorando um homem, é tida como hétero.
Muitas vezes, essa afirmação vem acompanhada da ideia de que a mulher não é bissexual, mas lésbica por só ter tido relações sexuais apenas com figuras femininas, ainda que tenha ocorrido o envolvimento emocional com homens. Ao dizer isso para alguém, questione-se sobre o que constitui o vínculo entre as pessoas e se o único critério para definir de quem ela gosta são as pessoas com quem ela transa.
8. “Ser bi é ser vetor de doenças”
Essa frase costuma ser dita por muitas lésbicas em relação a mulheres bissexuais, pois há ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), como o HIV, que são mais facilmente transmitidas através do sexo entre uma mulher e um homem ou entre dois homens.
Mais uma vez, esse pensamento relaciona-se com a ideia de que bissexuais são promíscuos e, portanto, descuidados quando o assunto é sexo. Só que com essa afirmação, é importante se questionar: por que a orientação sexual é o fator decisivo sobre alguém ser cuidadoso ou não? Definitivamente não é.